Utopias e Humanização


👉1 - Diante da ditadura do consumismo, a cultura da sobriedade


[...] Para que chegue a existir uma sociedade humana, certamente é preciso opor sobriedade ao consumismo, pois este gera desperdício insultante e adição, incrementa e sanciona a desigualdade social, impõe o inútil como necessário, move os de baixo a inverter recursos naquilo que não leva à solidariedade.

Estes males, embora importantes, são posteriores aos bens primários que busca gerar a civilização da pobreza: «alimentação apropriada, a vivenda mínima, o cuidado básico da saúde, a educação primária, suficiente ocupação laboral» (Utopía, 171). «A grande tarefa pendente é que todos os homens possam aceder dignamente à satisfação dessas necessidades, não como migalhas caídas da mesa dos ricos, mas como parte principal da mesa da humanidade» (Ibid.) A meditação e a assimilação dessas palavras podem ajudar a animar essa tarefa.

Essa pobreza é a que realmente abre espaço ao espírito, que já não se verá afogado pela ânsia de ter mais que o outro, pela ânsia concupiscente de ter todo tipo de superfluidades, quando a maior parte da humanidade não tem o necessário. Poderá então florescer o espírito, a imensa riqueza espiritual e humana dos pobres e os povos do terceiro mundo, hoje afogada pela miséria e pela imposição de modelos culturais mais desenvolvidos em alguns aspectos, mas nem por isso mais plenamente humanos (Ibid., 120).

A utopia dessa nova civilização pode orientar uma nova evangelização.
  

JON SOBRINO

São Salvador, El Salvador

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